Confrontos continuam após cessar-fogo na Palestina

Abbas convoca eleições antecipadas

Mesmo após o anúncio do início de um cessar-fogo, militantes do Hamas e da Fatah prosseguiram ontem os violentos confrontos que têm vindo a marcar os últimos dias na Faixa de Gaza. Alegando ser necessário sair dos actuais “momentos difíceis”, o presidente da Autoridade Palestiniana Mahmud Abbas convocou eleições presidenciais e legislativas antecipadas.

“Os homens armados devem sair das ruas”. A exigência foi ontem ao fim da tarde proferida por Ismail Radwan, porta-voz do Hamas, após o anúncio à Agence France Press (AFP) do acordo de um cessar-fogo entre o partido político e o seu opositor Fatah. Ainda assim, pouco mudou nas ruas da Faixa de Gaza, que presenciou o prosseguimento dos tiroteios entre os grupos armados de ambos os partidos.

Não livre de um eventual retorno, a decisão deve-se, segundo Radwan, ao acordo das partes em iniciar negociações no sentido de acordar uma coligação Fatah/Hamas para as próximas eleições. Isso constituiria a concretização da "primeira prioridade" do presidente da Autoridade Palestiniana (AP) Mahmud Abbas que, evocando a necessidade de ordem interna, havia convocado horas antes eleições legislativas e presidenciais antecipadas.

"Vivemos momentos difíceis e devemos sair deles. Para sair deste círculo vicioso e impedir que a nossa vida continue a deteriorar-se e a nossa causa se desfaça, decidi convocar eleições presidenciais e legislativas antecipadas", anunciou Abbas, num discurso televisionado que levou, horas depois, a uma reacção negativa da parte do actual partido no poder, o Hamas, considerando aquelas palavras “um apelo à guerra civil”.

Declarando ser o seu inimigo o estado vizinho de Israel, Abu Obeida, porta-voz das milícias armadas do Hamas (as Brigadas Ezzedine al-Qassam), informou ser prioridade do partido liderado por Ismail Haniyeh a obtenção de um acordo pacífico que una o povo palestiniano.

Foto: M&C News (http://news.monstersandcritics.com)

Civis Iraquianos raptados em Bagdade


Homens armados e disfarçados de oficiais da Polícia Nacional Iraquiana raptaram entre 20 a 30 civis iraquianos, no centro de Bagdade, durante a manhã de ontem.

Os raptores chegaram ao centro de Bagdade e rodearam funcionários de comércio local, vendedores ambulantes e transeuntes. De acordo com uma fonte oficial do Ministério do Interior do Iraque, os assaltantes não parecerem ter qualquer alvo específico, sequestrando tanto sunitas como xiitas.

Já não é a primeira vez que forças da resistência local utilizam os uniformes da Polícia Nacional para raptarem civis. Para combater essa situação, o governo iraquiano já havia decretado, no início deste ano, o envio de novas fardas para as forças de segurança locais. Líderes de minorias sunitas têm acusado milícias xiitas de infiltrarem as forças da polícia.

Os raptos aconteceram no dia a seguir aos bombardeamentos de Bagdade e Kirkuk, que mataram, pelo menos, 23 pessoas. Outras 52 ficaram feridas.

Vice-presidente alvo de atentado

A mesma fonte oficial do Ministério do Interior Iraquiano afirmou, em declarações à CNN, que um dos dois vice-presidentes do Iraque, Adel Abdul Mehdi, sobreviveu a um ataque na zona noroeste da capital iraquiana, Bagdade.

Os guarda-costas do governante, xiita, responderam aos tiros direccionados ao carro em que circulava Mehdi em pleno bairro de Jamia, que fica na zona sunita da cidade. O vice-presidente saiu ileso e não houve qualquer registo de ferimentos durante o incidente.

Entretanto, e à mesma hora que a comitiva de Mehdi se encontrava debaixo de fogo, um carro bomba explodiu na zona oeste de Bagdade, matando duas pessoas, incluindo um soldado iraquiano. Segundo o relatório oficial da polícia, nove pessoas ficaram feridas, quatro das quais militares.
Foto: America Online News (http://www.news.aol.com)

Erasmus recebem mais 30 por cento a partir de 2007

Comissão Europeia quer duplicar número de aderentes

O começo das celebrações dos 20 anos do programa Erasmus ficou marcado, quinta-feira, pela enfatização da sua importância pela Comissão Europeia. Satisfeita com o passado, a organização presidida por Durão Barroso quer aumentar o número de aderentes, para o que procederá a um incremento de 30 por cento nas bolsas Erasmus.

Iniciadas quinta-feira, as comemorações relativas aos 20 anos do programa universitário Erasmus serviram de mote para a reiteração, por parte da Comissão Europeia, da aposta cada vez mais forte naquele que é, nas palavras de Durão Barroso, "um sucesso europeu único". Para o presidente do organismo, Erasmus é "um excelente exemplo do que uma acção europeia coordenada no campo da educação pode fazer".

O programa Erasmus terá no período 2007-2013 um orçamento três vezes superior ao dos últimos seis anos, o que, no parecer do comissário europeu para a Educação e Cultura, Jan Figel, permitirá um aumento de 30 por cento na bolsa atribuída a cada estudante. Assim, o valor mínimo hoje concedido de 140 euros mensais passará para cerca de 200 euros.

Medida de sucesso, o programa Erasmus, que consiste na transferência, durante tempo determinado, de alunos de um para outro de entre 45 países do 'Velho Continente', perseguirá agora, segundo a Comissão Europeia, um objectivo ambicioso: o de duplicar em seis anos o número de aderentes nos últimos vinte.

Tendo sido um dos principais motivos para a criação do Processo de Bolonha, o programa tem vindo a crescer significativamente em número de estudantes, englobando um por cento da população universitária europeia. Em Portugal aderiram mais 25 por cento de alunos nos últimos seis anos do que nos treze anos anteriores de vigência do programa.

Foto: Blekinge Tekniska Högskola (bth.se)

Iraque na agenda de Blair e Bush

O presidente dos Estados Unidos da América (EUA), George W. Bush, vai receber o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, em Washington para mais uma reunião em que o Iraque deverá ser assunto principal. O estudo, recentemente divulgado, alusivo à forma como a coligação tem procurado resolver os problemas no Iraque poderá ter apressado o encontro entre os dois líderes.

A apresentação do relatório elaborado pelo Grupo de Estudos do Iraque (GEI) poderá ter sido o veículo que antecipou o encontro entre os dois responsáveis. Nesse relatório, a comissão de acompanhamento aconselhou que a coligação presente no Iraque, liderada pelos EUA e pela Grã-Bretanha, incluísse o Irão e a Síria nas negociações que têm em vista o fim da instabilidade no Iraque.

Essa é uma deliberação à qual Bush tem procurado resistir, não manifestando qualquer intenção em alterar essa política agora. Por outro lado, correspondentes da BBC no Médio Oriente referiram que Tony Blair pretende que este relatório seja visto como parte de um plano mais amplo para o Médio Oriente e um agente de mudança da política que tem sido seguida até agora no território.

Comissão sugere alargamento das negociações ao Irão e à Síria

A comissão, co-liderada pelo antigo secretário de estado norte-americano, James Baker, afirma no seu relatório que a estabilidade no Iraque apenas será atingida quando as conversações que visem esse objectivo “envolvam os seus vizinhos, incluindo o Irão e a Síria”, dois países com os quais a administração Bush tem desenvolvido uma relação bastante dura e inflexível.
O GEI vai sugerir para o Iraque a mesma linha de diplomacia seguida para a questão do Afeganistão, na qual as conversas com o Irão fizeram parte de um conjunto de negociações multilaterais com todos os vizinhos, e não apenas entre Teerão e Washington.

“Tudo aquilo que estamos a sugerir”, revelou Baker à CNN, “é que façamos o mesmo com eles (Irão) no que concerne ao Iraque, que nos aproximemos deles e que os convençamos a assistir a reuniões multilaterais com os restantes vizinhos do Iraque e com mais alguns países e ver se eles têm qualquer interesse em nos ajudar a estabilizar a situação”.
Segundo o mesmo antigo secretário de estado, o “Irão não tem qualquer interesse num Iraque caótico, e os representantes do governo iraniano com quem conversamos durante a elaboração deste relatório confirmaram-nos isso mesmo.”

Em resposta à exibição do relatório, o ministro da informação sírio, Mohsen Bilal, declarou que a “Síria abraça as conclusões” e que o país sempre esteve “disponível para negociar”.
O ministro anunciou que: “A Síria nunca parou as negociações, mas dizemos àqueles que o fizeram e que agora querem voltar à mesa das negociações: antes tarde do que nunca”.

O que diz o relatório

A posição do GEI, manifestada no seu relatório, em relação à política de guerra da administração Bush é que esta foi incompetente, afirmando que a situação do Iraque està “a degradar-se” avisando ainda que “o tempo escasseia”.

O relatório aconselha também a que se procure chegar a uma resolução do conflito entre Israelitas e Palestinianos como forma de aumentar a estabilidade na região.

O documento afirma que as tropas americanas deveriam retirar-se do combate e dedicar-se ao treino das forças iraquianas. Segundo as conclusões do estudo, as tropas de combate americanas deveriam começar a retirada nos princípios de 2008.

O correspondente da BBC em Washington garantiu que para um George Bush cada vez mais isolado a visita de Tony Blair, um amigo e aliado, será muito bem recebida. Contudo, porta-vozes da Casa Branca já fizeram saber que uma reacção oficial da instituição a este relatório está dependente de uma completa avaliação do mesmo que poderá, inclusive, levar semanas até estar completa.

Alguns analistas políticos têm dito que Bush preferirá referir a sua própria revisão da política a seguir no Iraque, política essa que será levada a cabo pelo Conselho de Segurança Nacional (CSN) e pelo Pentágono em vez de optar por seguir qualquer indicação do relatório do GEI.

Governo Iraquiano poderá cair

O relatório apresentado pelo GEI não oferece grandes novidades. De entre as suas 79 recomendações – elaboradas de forma unânime pelos 10 elementos que integraram a comissão – há três que se destacam: a necessidade imperiosa em transferir a responsabilidade de garantir a segurança no território para as forças iraquianas; a urgência que o governo Iraquiano desenvolva acções com vista à reconciliação entre as diferentes etnias do território; novas e reforçadas medidas diplomáticas na região que conduzam a mesma à paz.

Tudo isto para além da recomendação de que os EUA “entrem directamente em contacto com o Irão e a Síria”.

A comissão alertou ainda para o facto de que caso a situação piore, existe o risco de uma “caminhada rumo ao caos, situação que poderá levar ao colapso do governo e a uma catástrofe humanitária.

Relatório dado a conhecer no primeiro dia de Gates

O relatório do GEI foi dado a conhecer no dia em que Robert Gates assumiu, oficialmente, o cargo de secretário da defesa dos EUA, substituindo Donald Rumsfeld no posto. Gates já afirmou publicamente que os EUA “não estão a ganhar a guerra no Iraque” e apresentou a sua abertura a novas ideias que consigam reverter a actual situação.

O governo iraquiano recebeu de bom grado as sugestões apresentadas pelo GEI. De acordo com o vice-primeiro-ministro, Barham Salih, já foram analisadas propostas pelo seu governo com vista à transferência da responsabilidade de manter a segurança no país para as forças iraquianas.

Porém, deve-se ressalvar que um outro dos pontos mais importantes do relatório prende-se com a recomendação do GEI de que as forças americanas não saiam no imediato de terras iraquianas. A este propósito, James Baker assinalou que a saída repentina das tropas americanas do teatro de operações no Iraque representaria uma “receita para um desastre completo e duradouro”.

“Uma retirada precipitada não só geraria, indubitavelmente, uma guerra civil no Iraque, como também conduziria a uma guerra regional, pois cada um dos vizinhos do Iraque iria intrometer-se para proteger os seus próprios interesses” afirmou Baker. O co-responsável pelo GEI assegurou ainda que, caso as forças americanas abandonassem, neste momento, completamente o país a “Al Qaeda teria uma base de apoio assim como tiveram os Talibans quando controlavam o Afeganistão”.
Fotografia: Opinionated Voice (http://opinionated.blogsome.com/)